Quantas são as
irônicas voltas que este mundo dá! Há alguns anos houve movimentos sociais
intensos contra a transposição do rio São Francisco. Muitos artistas e pessoas
de destaque na mídia saíram em “defesa” do velho Chico. O intrigante é que
muitos deles sequer sabiam exatamente o percurso do rio ou o beneficio que
transposição iria gerar para a população do Sertão nordestino. Eram contra por
que é moda contestar o governo “de plantão”; simplesmente
para ser do contra. Como diria o folclórico Mocidade “Governo é pra sofrer”.
É claro que havia interesses políticos camuflados (sempre há). Também todos sabemos que uma obra desse porte no Brasil estaria, de alguma forma, contaminada por corrupção e superfaturamentos de toda sorte. Porém a finalidade principal dela, “matar a sede” do povo do semiárido, ficava um pouco esquecida.
É claro que havia interesses políticos camuflados (sempre há). Também todos sabemos que uma obra desse porte no Brasil estaria, de alguma forma, contaminada por corrupção e superfaturamentos de toda sorte. Porém a finalidade principal dela, “matar a sede” do povo do semiárido, ficava um pouco esquecida.
Alguns
anos se passaram, a obra ainda se “arrasta” e como se esperava foi palco de
muitos atos de desvio de recursos públicos. E também teve que superar até a
copa do mundo que levou parte do dinheiro para construir os estádios. Para
milhões de brasileiros a derrota por 7 x 1 para os alemães foi um desastre. Mas
sem dúvida a dor de quem vê o gado morrer de sede e fome é muito maior. É, mas
a copa passou e todo mundo esqueceu, porém as vacas não ressuscitaram e a
lavoura não brotou sem trabalho. O sertanejo continua enfrentando a seca; é a
velha guerra para sobreviver. E ‘olha lá a transposição, se arrastando feito
cobra pelo chão’...
Porém
não bastava o vexame no mundial, nem ver a dor do sertanejo ao perder a safra
para comover os “bacanas” da metrópole que pretendiam nos matar afogados,
lembram? Era preciso sentir na pele. Pois é, senhoras e senhores
preconceituosos e insensíveis, até a terra da garoa secou. Agora vocês sabem o
que é o calor causticante e o que é não ter água para as necessidades básicas e
ter que aproveitar a água da chuva que escorre pela calha do telhado. Hoje,
alguns talvez saibam o que é orar pedindo chuva e até, quem sabe, uma lágrima
de desespero tenha rolado por não saber quando a água chegará.
É,
senhores e senhoras preconceituosos, não dá mais para afogar nordestinos por
que “nós somos muitos” e o Cantareira secou. Agora vão recorrer à transposição
e de um rio que tem nome de estado do Nordeste; São Paulo vai usar as águas do
Paraíba. Tomara que os senhores e senhoras que pensavam ser superiores aos
demais brasileiros por que moram em uma grande cidade desenvolvida e
tecnológica, tenham aprendido que somos todos humanos, frágeis e efêmeros. A
seca que nos distanciava, hoje nos une. Ah! Quando ocorrer apagões, não façam
cerimônia, é só pedir que emprestaremos os nossos velhos candeeiros e um
pouquinho de querosene. Estão meio empoeirados por que faz tempo que não os
usamos. É, são as voltas que este mundo velho dá!
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